SOBRE JOÃO MONJARDINO
João Monjardino com o avô, Prof. Francisco Pulido Valente.
João Monjardino na entrega do Prémio de Ensino Francisco Pulido Valente na Faculdade de Medicina de Lisboa.
João Pedro Pulido Valente Monjardino (1936 – 2019)
João Monjardino, de seu nome completo João Pedro Pulido Valente Monjardino, nasceu em Lisboa a 27 de Dezembro de 1936 numa família com grande ligação com a Medicina, sendo o seu pai médico e os dois avôs ambos médicos e professores da Faculdade de Medicina de Lisboa.
João Monjardino formou-se em Medicina em 1961 na Faculdade de Medicina de Lisboa onde fez um curso excelente, que correu paralelamente à sua actividade política contra o regime então vigente, liderado pelo Professor Salazar, e ao seu envolvimento na luta académica contra as tentativas da Polícia Política/Pide, de controle das actividades estudantis. Tal levou-o, enquanto estudante, a ser preso duas vezes, sem culpa formada, mas também sem que isso tenha seriamente afectado o seu curso, em que obteve altas classificações, com 17 valores no curso e 20 valores na tese de licenciatura.
Ao acabar o Curso de Medicina concorreu a um lugar de médico interno do Hospital de Santa Maria em Lisboa, sendo impedido de tomar posse por recomendação da Pide e por decisão do Conselho de Ministros. Recorreu desta decisão sem sucesso, tendo sido informado de que não poderia ter acesso a cargos públicos.
Na sequência desta recusa, beneficiou de uma bolsa da Fundação Gulbenkian para Londres com vista a uma carreira de investigação clínica em Portugal, projecto inicial daquela Fundação. Esta alternativa acabou por não se realizar e a sua vida profissional viria a decorrer em Inglaterra, dedicada à Investigação Científica e ao Ensino de Medicina.
Após a sua chegada a Inglaterra, e tendo realizado que lhe era necessário um melhor conhecimento de bioquímica, inscreveu-se, como bolseiro da Fundação Gulbenkian, no Curso de Mestrado de Bioquímica da Universidade de Londres, que completou em dois anos (em vez dos três anos previstos) com distinção. Seguidamente – e tendo a bolsa da Gulbenkian cessado – estabeleceu contacto com o Imperial Cancer Research Fund, grande centro de investigação em Londres, onde foi aceite como estagiário. Aí permaneceu até inícios de 1973, adquirindo uma boa experiência de investigação e preparando a tese do seu doutoramento, em virologia.
Ao sair do ICRF, em 1973, concorreu a um lugar de assistente de Estudos Celulares no Royal Free Medical School, escola médica pertencente à Universidade de Londres, e assim começou a sua carreira docente. Simultaneamente continuou o seu trabalho de investigação, beneficiando do facto de ter começado a colaborar com os Servicos de Hepatologia do Royal Free, reconhecidos mundialmente pelo grande prestígio da professora Sheila Sherlock, uma hepatologista e clínica famosa. Após a professora Sherlock se ter reformado, João Monjardino transitou para a Escola Médica de St Mary’s, parte do Imperial College, uma das grandes Universidades de Londres. Em St Mary ‘s prosseguiu a sua carreira de ensino e investigação, inclusivamente escrevendo um livro sobre o vírus da hepatite – Molecular Biology of Human Hepatitis Viruses, publicado pelo Imperial College. Enquanto em St. Mary’s, foi-lhe conferido o título de Professor de Hepatologia Molecular, e aí permaneceu até à sua reforma a 30 de Setembro 2002, com 65 anos.
O seu trabalho foi amplamente reconhecido dentro e fora do Reino Unido, incluindo, após a revolução do 25 de Abril, em Portugal, onde sob a égide dos professores Ruy Luís Gomes e Corino de Andrade esteve envolvido na criação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, parte da Universidade do Porto, tendo sido um dos sete membros da respectiva comissão instaladora. Toda a sua vida, mesmo depois da sua reforma, se manteve em contacto próximo com o ICBAS, tomando parte em encontros e reuniões.
João Monjardino sempre se sentiu afectivamente ligado a Portugal e sempre reconheceu o seu Avô Pulido Valente como grande influência da sua vida. Foi, com o seu tio, o Engenheiro Fernando Pulido Valente e outros membros da família materna, um dos fundadores desta Fundação onde desenvolveu várias actividades incluindo a criação do prémio Ciência, que desde Junho de 2021 tem o seu nome.
Todavia seria um erro, mesmo numa curta biografia, ignorar outros dos seus aspectos e interesses. Dedicado homem de família, foi também sempre um lutador pela justiça social, estando envolvido em muitas actividades em defesa dos interesses de grupos mais desfavorecidos, com especial menção para a comunidade portuguesa de então em Inglaterra. Em Londres, onde residia a maioria da nossa emigração, foi, nomeadamente antes do “25 de Abril”, muito activo e interveniente junto dessa comunidade, tendo sido um dos fundadores da chamada Liga do Ensino e da Cultura Portuguesa, onde, entre outras actividades, quer lúdicas, quer educativas, ensinou inglês a emigrantes portugueses, continuando sempre a lutar com coragem e inteligência, contra o fascismo em Portugal, que considerava um regime odioso. O seu interesse pela política portuguesa, mas também pela política internacional, nunca esmoreceu e o seu sentido de justiça foi sempre uma parte essencial da sua maneira de ser.
João Monjardino faleceu no dia 31 de Outubro 2019, na sua casa em Londres, sobrevivendo-lhe a sua mulher Maria Emília Monjardino, três das suas quatro filhas e cinco netos.