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O Grupo do Consultório

O Grupo do Consultório

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DATA DA PINTURA
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Figuras
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Rua Garrett

Assim ficou conhecida a tertúlia que, todas as tardes, reunia no consultório de Pulido Valente, ao Chiado, e retratado no quadro de Abel Manta. Trata-se de uma tela de grandes dimensões, na qual estão representadas 12 figuras do nosso meio intelectual que, no final da tarde, se reuniam para discutir e conversar sobre temas diversos, desde a actualidade política aos problemas filosóficos e da cultura. A tertúlia do consultório acabou quando Francisco Pulido Valente deixou de fazer clínica, mas as suas ligações com alguns dos seus membros, como Manuel Mendes, Lopes Graça, Aquilino Ribeiro e Abel Manta, mantiveram-se até ao fim da sua vida em junho de 1963. O In Memoriam inclui contribuições de Mário Neves e Norberto Lopes com referências específicas ao grupo do consultório.
Este quadro esteve, inicialmente em casa de Francisco Pulido Valente na Avenida António Augusto de Aguiar, sendo em 1971 transferido para casa de Manuel Mendes (escritor) no Restelo. Após a morte da esposa do escritor (Bá Mendes, ainda familiar de Abel Manta) o quadro é, em 1983, doado pelos herdeiros à Câmara Municipal de Lisboa, encontrando-se exposto no Museu da Cidade.
Graças a uma parceria da Fundação Professor Francisco Pulido Valente com o Museu de Lisboa de cujo acervo o quadro faz parte, foi possível concretizar esta ideia, com a realização em 2020 e 2021 de um conjunto de conferências sobre algumas das personalidades que frequentavam a tertúlia (Francisco Pulido Valente, Aquilino Ribeiro, Abel Manta, Bento de Jesus Caraça), e sobre o enquadramento social e político da época.

Quadro Abel Manta
Aquilino Ribeiro (Sernancelhe, 1885 – Lisboa, 1963) Vasco Artur Ribeiro Santos (1913 – 1982) Mário Alenquer (Lisboa, 1921 – 1964) Alberto Candeias (1881 – 1972) Abel Manta (Gouveia, 1888 – 1982) Sebastião Costa (1894 – 1969) Luís da Câmara Reis (Lisboa, 1885 – Estoril, 1961) Manuel Mendes (Lisboa, 1906 – 1969) Francisco Pulido Valente (Lisboa, 1884 – Lisboa, 1963) Amílcar Ramada Curto (Lisboa, 1886 – Lisboa, 1961) Carlos Olavo (Funchal, 1881 - Lisboa, 1958) Fernando Lopes Graça (Tomar, 1906 – Lisboa, 1994)

Aquilino Ribeiro (Sernancelhe, 1885 – Lisboa, 1963)

Nascido em Carregal da Tabosa, Sernancelhos esteve desde cedo destinado pela família ao sacerdócio. Frequentou o colégio jesuíta da Lapa e os seminários de Lamego, Viseu e Beja desistindo, contudo, da carreira eclesiástica por falta de vocação.

Fixou então residência em Lisboa e dedicou-se à tradução e ao jornalismo, defendendo o ideal republicano, movimento em que participou de forma ativa. Detido em 1907, na sequência de uma explosão que matou dois correligionários, fugiu para Paris, onde frequentou os cursos de Sociologia e Filosofia na Sorbonne e escreveu o seu primeiro livro: O jardim das tormentas (1913).

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Vasco Artur Ribeiro Santos (1913 – 1982)

Licenciado em Medicina, foi assistente de Francisco Pulido Valente no Hospital de Santa Marta. Assistente de Medicina dos HCL - o topo da carreira e um lugar de grande prestígio da Medicina portuguesa - ingressou em 1949 no Hospital dos Capuchos e, mais tarde, no Hospital de São José, onde sucedeu a Oliveira Machado como Diretor de Serviço. Desempenhou também funções como professor de Patologia Médica na Escola Artur Ravara.

Médico de grande competência, pertenceu ao grupo de discípulos de Pulido Valente que, durante vários anos, ocuparam lugares preponderantes no exercício da clínica particular na sociedade lisboeta. Era pai do estudante José Ribeiro Santos (1946-1972), assassinado pela PIDE, durante uma reunião no Instituto Superior de Economia, actual ISEG.

Mário Alenquer (Lisboa, 1921 – 1964)

Nascido em Lisboa, frequentou o Liceu Camões, onde dedicou especial interesse ao estudo da Matemática. Aluno brilhante, assistiu, como hobby, a cursos universitários na Faculdade de Ciências e no Instituto Superior Técnico, adquirindo uma sólida formação em ciências exactas, que lhe permitiu participar em discussões e seminários com vários especialistas em Matemática e Física.

Ingressou na Faculdade de Medicina, onde foi aluno de Francisco Pulido Valente. concluindo a licenciatura com 19 valores. Em Maio de 1949, concorreu ao lugar de assistente de Medicina dos HCL - o topo da carreira e um lugar de grande prestígio da Medicina portuguesa - e foi colocado no Serviço de Tisiologia do Hospital Curry Cabral, cuja direção assumiria em 1954.

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Alberto Candeias (1881 – 1972)

Licenciado em Ciências pela Universidade de Coimbra, frequentou como bolseiro a secção de Biologia Marítima e Oceanografia da Universidade de Liverpool. Desenvolveu uma notável ação pedagógica como professor em várias instituições de ensino, entre as quais o Liceu Gil Vicente. Foi investigador do Aquário Vasco da Gama/ Estação de Biologia Marítima, onde trabalhou durante grande parte da sua vida, sendo colaborador Alfredo Magalhães Ramalho.

Figura destacada no cenário intelectual de Lisboa, colaborou assiduamente na revista Seara Nova, tendo a seu cargo, durante algum tempo, a secção "Factos e Documentos". Dedicou-se também à tradução e ao ensaio e publicou vários trabalhos no campo da Biologia Marítima.

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Abel Manta (Gouveia, 1888 – 1982)

Natural de Gouveia, fixou-se na capital em 1908, concluindo, sete anos mais tarde, o curso de pintura da Escola de Belas Artes. Entre os seus professores, encontravam-se Carlos Reis e Alberto Condeixa.

De 1919 a 1925, estabeleceu-se como bolseiro em Paris, onde conheceu Dórdio Gomes, com quem manteve uma amizade ao longo da vida. Na capital francesa teve oportunidade de reatualizar a formação naturalista através da obra de Cézane, que se tornou a sua grande referência. Durante esse período expôs no salão do La Nacionale e frequentou o curso de gravura da Casa Shuleberger.

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Sebastião Costa (1894 – 1969)

Filho de Afonso Costa (1971-1937), foi ajudante de campo de seu pais durante a Primeira Guerra Mundial, o que lhe valeu a alcunha de "Príncipe Sebastião" na campanha política movida contra aquele estadista.

Estudou na Suíça, onde se formou em Engenharia Civil na Escola de Ponts et Chaussés, dedicando-se à atividade comercial ligada, sobretudo, a firmas conserveiras.

Encontrava-se ligado a Francisco Pulido Valente por fortes laços de amizade.

Luís da Câmara Reis (Lisboa, 1885 – Estoril, 1961)

Nasceu em Lisboa, no seio de uma família oriunda da Ilha Terceira, e concluiu o curso de Direito na Universidade de Coimbra em 1907. Mais vocacionado para as Letras do que para as Leis, foi professor do Ensino Secundário em Setúbal e, mais tarde, já na capita, deu aulas nos liceus Camões e Gil Vicente, na Casa Pia e na Escola Normal (Magistério Primário). O seu interesse pelas questões do ensino levou-o a assinar, em 1908, o programa da Liga de Educação Nacional que se propunha "regenerar a sociedade portuguesa pela educação".

Colaborou com diversos jornais e revistas: Mocidade; SerõesIlustração PortuguesaAtlântidaLusitâneaLutaCapital e País, entre outros. Foi director de A República Portuguesa e colaborou na revista Gleba, célula mãe do Neorealismo.

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Manuel Mendes (Lisboa, 1906 – 1969)

Natural de Lisboa, frequentou o curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras, tendo participado nas greves académicas de 1928 e 1931. Não concluiu, contudo a licenciatura, em protesto contra a situação política.

Ligado ao grupo Seara Nova, foi companheiro de Raul Proença, António Sérgio, Jaime Cortesão, Mário de Azevedo Gomes, e Câmara Reis. Interveio na preparação das revoltas militares e civis que marcaram a primeira fase de resistência à ditadura militar do Estado Novo. Ficou conhecido pela coragem quando, com um grupo de companheiros, assaltou a esquadra de polícia do Rego para libertar Barreto Monteiro que estava a ser torturado pela PIDE.

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Francisco Pulido Valente (Lisboa, 1884 – Lisboa, 1963)

Aquilino Ribeiro (1885-1963) lembrou a figura de Francisco Pulido Valente, médico notável e professor na Faculdade de Medicina de Lisboa que, em junho de 1947, por decisão do Conselho de Ministros de Salazar, conheceu o afastamento da sua cátedra por ideias contrárias ao Estado Novo, com as seguintes palavras: "É particularmente ao amigo e ao homem enamorado das artes e letras, cultor exímio de música no seu lar, lido em todas as literaturas, que eu consagro este romance mal alinhavado" -in prefácio de Quando os Lobos Uivam, 1958.

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Amílcar Ramada Curto (Lisboa, 1886 – Lisboa, 1961)

Depois de ter concluído o liceu em Lisboa, ingressou no curso de Direito da Universidade de Coimbra, onde foi um dos impulsionadores da greve académica de 1907, na qual se reivindicou a renovação pedagógica, cultural, intelectual e política daquela instituição. A participação no protesto, que constituiu um dos acontecimentos sociais e políticos mais marcantes do governo de João Franco, valeu-lhe a expulsão, seguido de uma amnistia.

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Carlos Olavo (Funchal, 1881 - Lisboa, 1958)

Nascido no Funchal, no seio de uma família aristocrática, frequentou a Escola Politécnica de Lisboa, onde fundou, com outros colegas, a Liga Académica Republicana, em 1900, e os jornais diários A Liberdade (1901) e A Marselhesa (1901), extintos pelo Juízo de Acção Criminal. Ingressou o curso de Direito da Universidade de Coimbra e participou na Greve Académica de 1907, na sequência da qual foi expulso da faculdade e posteriormente amnistiado, o que lhe permitiu terminar a licenciatura em 1908.

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Fernando Lopes Graça (Tomar, 1906 – Lisboa, 1994)

Iniciou os estudos musicais em Tomar, sua cidade natal, e ingressou com 17 anos no Conservatório de Lisboa, onde completou o Curso Superior de Composição (1923-31), tendo sido aluno de Vianna da Motta, Tomás Borba e Luís de Freitas Branco.

Em simultâneo, frequentou o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1928-31), que viria a abandonar em protesto contra a repressão a uma greve académica. Em 1931, no dia em que concluiu com a mais alta classificação as provas de concurso para professor de Solfejo e Piano do Conservatório Nacional, foi preso pela polícia política, encerrado no Aljube e, a seguir, desterrado pela Alpiarça. Continuou os estudos de História na Universidade de Coimbra (1932-34), não chegando, contudo, a concluir a licenciatura. Embora tenha começado a dar aulas na Academia de Música de Coimbra em 1932, as suas atitudes políticas de clara oposição ao regime valeram-lhe a proibição de ensinar em escolas públicas, tendo sido de novo preso em Setembro de 1935 e enviado para o forte de Caxias.

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A tertúlia do consultório acabou quando Francisco Pulido Valente deixou de fazer clínica, mas as suas ligações com alguns dos seus membros, como Manuel Mendes, Lopes Graça, Aquilino Ribeiro e Abel Manta, mantiveram-se até ao fim da sua vida em junho de 1963. O In Memoriam inclui contribuições de Mário Neves e Norberto Lopes com referências específicas ao grupo do consultório.