O GRUPO DO CONSULTÓRIO

Sobre Francisco Pulido Valente

Aquilino Ribeiro (1885-1963) lembrou a figura de Francisco Pulido Valente, médico notável e professor na Faculdade de Medicina de Lisboa que, em junho de 1947, por decisão do Conselho de Ministros de Salazar, conheceu o afastamento da sua cátedra por ideias contrárias ao Estado Novo, com as seguintes palavras: “É particularmente ao amigo e ao homem enamorado das artes e letras, cultor exímio de música no seu lar, lido em todas as literaturas, que eu consagro este romance mal alinhavado” –in prefácio de Quando os Lobos Uivam, 1958.

Conheciam-se bem e admiravam-se mutuamente desde a revolução republicana de 1910 (faleceram exatamente no mesmo ano, com diferença de um mês), o que ficou bem expresso nesta outra frase retirada do mesmo texto: “Dos poucos que vejo de pé, o Professor Pulido Valente é um deles [está a referir-se aos caminheiros que ficaram no percurso, alguns vítimas da liberdade]. E antes de mais nada aqui rendo preito ao preux chevalier, que se traduz na linguagem de hoje por gentil amigo. Eu me declaro orgulhoso de há dezenas de anos me ver a seu lado, homem forte que é, extremoso de solicitude, inquebrantável de carácter e sólido de espírito, embora na sua cabeça tenha pousado com a auréola do jubileu a primeira neve do inverno.”

Também Diogo Furtado (1906-1964), na sua publicação Vultos e Problemas publicado em 1957, é perentório: “Nenhum médico português, com efeito, nenhum mestre da medicina, teve influência comparável sequer à de Pulido Valente sobre as atuais gerações de médicos. Foi nele, com o favor das excecionais aptidões da sua inteligência, que se deu entre nós a grande metamorfose da medicina, passando de uma arte, baseada essencialmente na observação clínica, para uma verdadeira ciência que procura constantemente a base experimental dos fenómenos que observa.”

No relatório sobre o ensino da Clínica Médica, preparado por Pulido Valente em 1920, depois de assumir a regência da primeira clínica médica, podemos encontrar um balanço dos primeiros dez anos de vigência da reforma de 1911 e propostas concretas de mudança. “É fundamental para formar práticos que a Faculdade corresponda ao seu primeiro fim nacional. Se quisermos salvar o ensino médico é necessário reformá-lo profundamente, não só dando às cadeiras do clico clínico o tempo e a importância que lhes compete no curso, mas modificando radicalmente a índole e a metodologia das cadeiras do primeiro ciclo…”.

Rui Pulido Valente