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Sobre Fernando Lopes Graça

Iniciou os estudos musicais em Tomar, sua cidade natal, e ingressou com 17 anos no Conservatório de Lisboa, onde completou o Curso Superior de Composição (1923-31), tendo sido aluno de Vianna da Motta, Tomás Borba e Luís de Freitas Branco.

Em simultâneo, frequentou o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1928-31), que viria a abandonar em protesto contra a repressão a uma greve académica. Em 1931, no dia em que concluiu com a mais alta classificação as provas de concurso para professor de Solfejo e Piano do Conservatório Nacional, foi preso pela polícia política, encerrado no Aljube e, a seguir, desterrado pela Alpiarça. Continuou os estudos de História na Universidade de Coimbra (1932-34), não chegando, contudo, a concluir a licenciatura. Embora tenha começado a dar aulas na Academia de Música de Coimbra em 1932, as suas atitudes políticas de clara oposição ao regime valeram-lhe a proibição de ensinar em escolas públicas, tendo sido de novo preso em Setembro de 1935 e enviado para o forte de Caxias.

Em 1937 partiu para Paris, onde permaneceu dois anos, aprofundando os seus estudos em composição e musicologia na Sorbonne. Por esta altura Lopes Graça conheceu Francisco Eduardo Pulido Valente, iniciando uma amizade que se manteve ao longo da sua vida.

Regressado a Lisboa em 1939, alojou-se durante algum tempo na casa da família Pulido Valente, na rua São Francisco Nery, que continuou a frequentar regularmente durante muitos anos. Retomou então a actividade de cronista musical, musicólogo e professor, iniciando a de organizador de concertos e maestro coral. Homem de vasta cultura, voltou também a colaborações como crítico musical e teatral na Seara Nova e no Diabo, respetivamente, e participou com Bento de Jesus Caraça na organização da Biblioteca Cosmos, onde publicou vários livros de divulgação, com intuito pedagógico, de assuntos de carácter musical.

No período que se seguiu ao seu regresso a Portugal, a actividade de Fernando Lopes Graça foi sendo cada vez mais influenciada pela oposição ao regime, determinada pela sua participação no Movimento de Unidade Democrática (MUD), do qual chegou a ser dirigente, e no PCP, onde militou na década de 40. Data de 1945 o seu plano para a organização estatal da música, inédito até 1989, dando início também nesse ano à composição das célebres “Canções heróicas”, canções de intervenção, que Lopes Graça continuou a compor até 1984, não obstante a proibição que pesava sobre a sua execução pública.

O fim do Estado Novo traduziu-se no reconhecimento estatal da importância da obra de Lopes-Graça para a cultura portuguesa através de diversas homenagens e encomendas estatais.